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Poesia: Quarentena

  • Foto do escritor: Guilherme Rubens
    Guilherme Rubens
  • 12 de jun. de 2020
  • 4 min de leitura

#ParaCegoVer: A imagem acima mostra duas mãos agarradas em barras de ferros, insinuando uma cela de prisão. Atrás das barras de ferro está o logo do site. Na parte inferior da imagem está o título da poesia. A imagem está em preto e branco, o único elemento colorido é o logo do site, com o seu azul brilhoso.


Poesia escrita originalmente por mim em 17/04/2020.



Quarentena

Levanto da cama e começo a despertar

Abro os meus olhos e começo a pensar

Veja só, me pergunto no mesmo instante

Do que será o meu pai? Um humilde comerciante...

Digo preocupado

Sentindo muita pena

Pois ele quer trabalhar

Mas está de quarentena.

Uma escolha sábia minha mãe acabou de fazer

Vendeu alguns pertences, para podermos comer

O futuro é incerto, cheios de dúvidas na cabeça Mas continuamos juntos, independente do que aconteça

Olho pela janela e fico encantado de verdade!

Vejo os pássaros voando, em plena liberdade!

Não posso ir para fora, mesmo se for “libertado”

Mas é que eu ainda vejo o sol nascer quadrado.

A distância entre nós, esse não é o problema.

Acontece que eu sinto saudade da minha morena.

Sentir o seu doce cheiro, suave e delicado,

Ver ela novamente, é tudo o que eu tinha sonhado.

Ô minha neta, não venha a chorar!

Não se preocupe, vai melhorar!

Minha netinha, quando isso acabar

Bem aí eu irei te abraçar!

Pare de reclamar! Não seja rude!

Olhe em volta, olhe a saúde!

Uma arrogância até neste momento?

Olhe em volta, olhe o sofrimento!

Diariamente eu estou lutando

Olho na tela os números melhorando

Um pingo de esperança ainda me resta

E por isso não desisto de uma batalha com esta.

Um registro eu faço agora

Para anotar a minha história

Única coisa que posso fazer

Antes do que o pior possa acontecer

Escrevo essa análise e respiro fundo

Analiso este mundo, e fico assustado

Vou mostrar para todos

Quando eu for libertado

De modo nenhum, eu não posso parar!

Minha mala das costas, eu não posso tirar

Vou para o horizonte em alta velocidade

Devo entregar as pizzas e trazer felicidade!

Algumas pessoas, tive que enterrar

Desculpe, mas isso eu não podia evitar

Coisas do trabalho novo que comecei

Ninguém queria ele, então eu entrei

Ver as pessoas melhorando

Me deixam com esperanças

Vou continuar me esforçando

Eu sei que vai ter mudanças!

Eu não paro de chorar, preciso de ajuda

Se eu peço que me acuda, respondem: “Dorme!”

Mas eu digo: “Estou com muita fome”

Acabo nem lembrando, qual é mesmo o meu nome?

Com isso tudo acontecendo não tem como refletir,

Pois os meus pensamentos, começam a sumir!

O cansaço toma conta do meu ser

E algumas palavras não consigo mais dizer.

Finalmente esta quarentena vai acabar.

Agora neste leito, eu vou ter que deitar

Ainda bem que a minha vida, consegui anotar.

Pois os sons das trombetas já começo a escutar.



Curiosidade: Nesta poesia, existe mais de uma maneira para interpretá-la. Diversos versos foram escritos com este propósito, de provocar diversas realidades em uma poesia só. Como assim? Irei explicar.

Em primeira vista, entende-se que é um homem passando por dificuldades apresentadas no nosso cotidiano, inclusive, chegando em sua morte. Porém, não significa somente isto.

Existem outros lances interpretativos, como os que irei explicar à seguir:

Se cada parágrafo for analisado de maneira única, entende-se que são vidas diferentes, passando por situações diferentes, tudo isso sendo retratado com o que estamos passando hoje, a pandemia que todos sabemos. Sendo assim, temos na poesia o pesquisador que está fazendo “análises” para encontrar uma cura, por exemplo, que “vai mostrar para todos quando for libertado”. Encontra-se também o jornalista, que “Luta diariamente” para informar a todos os cidadãos e “vê os números melhorando e tendo esperança”, o médico também está presente, vendo as pessoas melhorando e continuando com esforço. Assim como o coveiro enterrando pessoas e o entregador de pizza, trazendo a felicidade (E bota felicidade nisso! kkk). Não só eles como a população também está sendo representada, como o comerciante perdendo o trabalho e a mãe fazendo de tudo para alimentar os filhos. Retrato direto de tudo o que muitas pessoas estão passando.

Outra forma de entender a poesia, que também é muito interessante, é uma vida sendo contada, uma vida de uma pessoa em definitivamente "uma quarentena". Tal pessoa, que está presa. O verso que comprova isso diz Ainda vejo o sol nascer quadrado”. Bom, cada estrofe representa uma parte da vida deste homem, então, muda-se alguns conceitos apresentados anteriormente, pois são lembranças e momentos de uma única pessoa que estão sendo anotados em primeira pessoa! Ele está preso, mas conta a sua história nos versos para deixar para alguém. Ele conta a dificuldade que ele passou na infância, com os seus pais, o que faz a diferença nos próximos versos. O “enterrar pessoas” não é um trabalho de um coveiro, mas sim um crime que cometeu, trabalhava como entregador de pizzas antes de ser preso. Homem que ficou afastado de sua família, sente saudades e quer muito sair de lá. As pessoas “melhorando” são outros homens saindo dessa “quarentena”. E assim como eu disse, são fatos de sua vida, então na estrofe onde ele “chora, dorme e sente fome, não lembrando o próprio nome” foi quando era só um bebê. O cansaço representa a sua velhice, e o último parágrafo, ele escreve quando está morrendo, deixando assim, somente o seu registro... A sua poesia.

Fique à vontade, para teorizar e interpretar outras partes e versos que não comentei.


Muito obrigado por ler! E gostaria MUITO de agradecer a todas as pessoas que estão me apoiando desde que o site foi lançado! Agradeço pelas pessoas que se cadastraram no site, pois irão receber antecipadamente todos os posts ;)

E aí? Curtiu? Escreva nos comentários se achou mais alguma analogia.

Um forte abraço do Rubão! Respeite o distanciamento social hein!!


--Ruubeens!



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